Reunião de 3/8/2015

A difícil arte de empreender no Brasil

“Não podemos desistir. O Brasil precisa de nós”

Fundador de um dos maiores grupos empresariais do País, Walter Torre Júnior, titular da WTorre S.A. (com atuação nos segmentos residencial, comercial, shopping centers, entretenimento, galpões e logística), foi protagonista de dois episódios icônicos na cidade de São Paulo em termos empreendedorismo atravancado pela burocracia. Um deles, a abertura do shopping JK Iguatemi, na zona Oeste de São Paulo, cuja inauguração foi postergada por quase dois meses até a obtenção das licenças requeridas. O segundo foi – e, de certo modo, ainda é – o Allianz Parque, arena do Palmeiras.

Torre foi o convidado da reunião do Núcleo de Altos Temas do Secovi-SP (NAT), havida em 3/8, na sede do Sindicato.

No primeiro caso, a Prefeitura comunicou a WTorre que, para ter o shopping liberado, deveria fazer obras de contrapartida. Tudo nos conformes, se essa informação não tivesse sido passada à empresa uma semana antes de a obra estar concluída e na iminência de o Habite-se ser requerido. “Fizemos nove quilômetros de Marginal Pinheiros, todo o sistema de TV da Prefeitura, a central de inteligência das TVs, dois viadutos, a ciclovia, entre outras coisas”, listou o executivo.

No caso do Allianz Parque, a Prefeitura não liberou o alvará de construção para o empreendimento, mas sim de reforma. “Por causa disso, tivemos de manter 30% da antiga estrutura do estádio sob a nova estrutura. Embaixo das arquibancadas do anel da Matarazzo, fomos obrigados a manter a estrutura das antigas arquibancadas, que ninguém vê, nem serve pra nada”, explicou Torre. Além disso, o Ministério Público – indispensável instituição para a garantia dos direitos difusos e coletivos, mas que, não raro, se arvora na prerrogativa de se tornar um óbice à livre-iniciativa –, requer até hoje que toda a nova arena seja demolida e reconstruída tal qual era antes de todo o processo de reforma.

Claudio Bernardes, presidente do Secovi-SP, destacou os entraves que os empresários imobiliários enfrentam no dia a dia de seus negócios. “O licenciamento de um empreendimento, além de consumir meses e meses, necessita um volume enorme de providências, documentos, tenacidade e muita paciência”, disse. Lembrou, ainda, que “mesmo cumprindo todas as diversas exigências legais emanadas das três esferas de poder – muitas vezes, conflitantes entre si –, não raro o empreendedor se depara com o ajuizamento de ações por parte de associações, ONGs ou Ministério Público, que resultam em embargos sem fundamento e, no mínimo, injustos. Tudo se paralisa. Ficamos à mercê do Judiciário.”

Lapidado por essas agruras, Walter Torre expôs projetos que, à semelhança do shopping e da arena, enfrentaram ou ainda enfrentam inúmeros obstáculos para sua realização. É o caso de um megaempreendimento na região de Osasco. “Estamos aprovando isso há 18 anos”, disse. Em outro projeto, este no Brooklin, a aprovação tomou seis anos. Como o terreno em que o projeto foi concebido era de uma antiga fábrica, seu solo acabou ficando contaminado. “Quando a gente descontamina um terreno, fazemos um bem para a cidade. Os órgãos públicos deveriam facilitar esse processo, não complicar, como foi o caso que enfrentamos ali”, sublinhou.

Torre também destacou projetos de seu grupo como um porto em Santos, o maior prédio corporativo de São Paulo (WTorre Morumbi), o teatro Santander (que, segundo o almejado pelo empresário, será o melhor do País), dentre outros grandes empreendimentos, como shopping centers no interior do Estado, outro porto no Nordeste do País e galpões logísticos em diversas regiões do Brasil e nos Estados Unidos. Particularmente sobre seus investimentos no exterior, Torre frisou que falta ao Brasil a visão de business que os órgãos públicos americanos têm. “Eu já estava acostumado com a dificuldade daqui. Agora, estou começando a ficar mal acostumado com as facilidades de lá”, pontuou. “Para vocês terem uma ideia, o Código de Obras de Los Angeles tem duas páginas. O nosso [de São Paulo] é muito complicado.”

As intempéries – “Temos burocracia, impostos e dificuldade de acesso ao capital (que tem custo alto). A taxa de juros de hoje oferece rentabilidade anual que se equipara à de um novo negócio. Muito do que se empreende no País é fruto da necessidade, não de oportunidade”, disse. Comparando com o que ocorre nos Estados Unidos, o empresário contou que, tão logo teve um empreendimento aprovado em Miami, já recebeu 108 propostas de financiamentos bancários. “Aqui, no Brasil, acesso a crédito está difícil.”

Como contribuição adicional aos atravanques, há a imperante falta de bom senso no poder público. “O Código de Obras de São Paulo tem duas classificações: residencial e comercial. O Allianz Parque foi enquadrado como escritório. Assim, temos três vezes mais banheiros que qualquer arena do mundo”, sustentou. “Mas não podemos desistir, o Brasil precisa de nós.”

Falta, ainda, equidade por parte dos agentes públicos, o que gera insegurança e frustra as expectativas do setor produtivo. Um exemplo citado por Torre remonta, novamente, ao JK Iguatemi. “Nós tivemos de dar uma contrapartida de R$ 130 milhões ao município. O que nos deixa triste não é o fato de ter de trabalhar para a cidade. O que entristece é que o nosso vizinho, na mesma quadra, teve de fazer R$ 70 mil de contrapartida. E o vizinho da frente – que veio depois, ou seja, impactando ainda mais o trânsito –, teve de fazer R$ 6 milhões”, lamentou o empresário.

Para Walter Torre, o momento de crise deve ser aproveitado para investir em novos empreendimentos. “Nossos produtos ficarão prontos daqui a quatro ou cinco anos, quando se espera que a economia esteja normalizada. Se não atuarmos agora, vai faltar produto.”

Conforme definiu Romeu Chap Chap, coordenador do NAT, “a biografia de nosso palestrante deixa claro que, por maiores que sejam as adversidades, ele não aceita pensar pequeno, não se permite contaminar pelo pessimismo generalizado. É um exemplo”. Tanto que, ao finalizar sua apresentação, Walter Torre gerou expectativa na plateia, ao anunciar que pretende construir mais uma arena na cidade de São Paulo, cuja proposta será abrigar diversas modalidades esportivas. O projeto, ainda mantido em segredo pelo executivo, será concebido em parceria com a Prefeitura de São Paulo.

Leandro Vieira
Assessoria de Comunicação/ Secovi-SP

Galeria de Fotos

Fotos: José Carlos Tafner Jorge

Download – Apresentação Walter Torre Jr.

Download – Pronunciamento Romeu Chap Chap

Download – Pronunciamento Claudio Bernardes