Reunião de 22/9/2008

“O que têm a dizer Antonio Angarita, Paulo Nathanael e Ozires Silva”

O Brasil Amanhã – Ozires Silva

Ex-ministro de Estado da Infraestrutura; ex-presidente da Petrobras e da Embraer; presidente do Conselho Consultivo do WTC – World Trade Center; membro do NAT.

Precisamos pensar efetivamente no amanhã. Estamos cansados de diagnósticos, de pensar olhando o retrovisor. De repente, temos uma nova crise e até ficamos torcendo para que ela explique por que não avançamos.
Pensar o futuro é obrigatório, principalmente pela razão de vivermos um cenário global. E apenas três palavras, complementares entre si, resumem o mundo de hoje: mobilidade, comunicação e informação.
É por isso que a instrumentação do progresso nos países emergentes vem da educação, a qual não é problema do governo, mas da sociedade. Países sem espaço territorial ou recursos naturais abundantes são vencedores porque investem na educação e possuem um povo preparado para o fenômeno mundial. Na Coréia, por exemplo, existe verdadeiro fanatismo pela educação.
Vivemos um mundo que muda e vai continuar mudando. Mas o Brasil não acompanha esse processo, pois resiste a mudanças estruturais. O Egito, que era reconhecido por ter a constituição mais extensa, complicada e contraditória do planeta, perdeu esse posto para nós. Note-se que mesmo Egito mudou. O Banco Mundial informou que foi o país campeão de mudanças em 2000. E nós…
Hoje, 178 nações estão fazendo negócios, e o Brasil está lá atrás, no último lugar na criação de empresas (são meses para abri-las e é impossível fechá-las).
Discursos dizem que o País vai bem – o que passa a idéia de progresso. Não é verdade, estamos perdendo. Aí nos falam que o futuro pertence aos asiáticos. E nós, vamos ficar no vaticínio, aplaudindo isso?
O Brasil não está fazendo o dever de casa para enxergar o futuro. Não fazemos planejamento, perdemos oportunidades, importamos até chicletes da China…
Pode-se dizer que vendemos ‘commodities’, mas esse não é o caminho. O importante é o valor agregado. Foi por isso que me dediquei à criação do ITA (Instituto Técnico Aeroespacial), o qual deu origem à Embraer.
Diante dessas considerações, considero que o NAT foi criado no momento certo para pensar o Brasil. Nossos dependentes esperam isso de nós. O desafio é tentar colimar esses resultados.
Defendo que o progresso passa pela soma do sucesso de cada cidadão, não do processo de sucesso do governo, que não é o dono do Brasil. Nossa bandeira diz “Ordem e Progresso”, a Constituição nos chama de república federativa, mas na verdade estamos numa república federal.
Precisamos produzir respostas. O País pertence ao povo, e não ao governo que, de tempos em tempos, nos chama às urnas.
Precisamos prestigiar os empreendedores. Na Califórnia, por exemplo, pesquisas mostram que os cidadãos não querem emprego, mas criar sua própria empresa. Remetem à Theodore Roosevelt, para quem, mesmo se expondo à derrota, é melhor lutar e arriscar. Não há desenvolvimento sem riscos.
O Brasil tem de abandonar sua posição secundária e deixar de ser um sucesso de pobreza.

Antonio Ignácio Angarita Ferreira da Silva – Como se forma um governo

Secretário do Governo e Gestão Estratégica do Estado de São Paulo (gestão Mário Covas) e vice-diretor da Escola de Direito da FGV,

O Brasil é uma sociedade complexa, com múltiplos grupos de interesse. E é importante ver o interesse como algo positivo, pois é a base para um projeto de vida.
No campo da política, não se pode afirmar que sua ética leve à corrupção. Mas é preciso entender que há aspectos distintos, uma espécie de moral distinta. É preciso, por exemplo, conceder. Há uma obrigação a cumprir.
O político, uma vez eleito, forma naturalmente o seu governo. Surgem, então, novas dificuldades. É preciso ajustar os escalões – e todos os seus companheiros querem estão no primeiro escalão, como primeiros ministros. Nesse momento, há uma lista de nomes para escolher, um processo complicado, pois a escolha de um gera a antipatia do outro.
Quando um governo começa, é preciso cuidar das alianças, sem as quais é impossível governar. E é pelas alianças que se mede o talento de um governante. A questão é que tais alianças nunca são perenes, o que exige talento e paciência ainda maiores.
Não raro, portanto, os amigos se tornam adversários de um governo, em razão dos inúmeros pedidos que nem sempre são atendidos. O mesmo ocorre com os parentes, o que é necessário, uma vez que a república dos primos, sobrinhos e compadres tem de acabar. É moralmente negativo.
Há, ainda, os inimigos que não tem face, caso este da corrupção, que está na atmosfera dos governos, o que torna imperativa a reconstrução da corregedoria geral. Outros desses inimigos são o grande agravo ou o grande apreço. Para uns, o governo não presta. Para os áulicos, o governo detém todas as virtudes do ser humano.
Esse esquema remonta bem a história dos povos, para os quais sem estado não há salvação ou, ao contrário, a sociedade é tudo e o mercado o demiurgo que tudo revolve.
O certo é reunir essas duas forças de uma nação para equacionar problemas. Um governo não pode responder por tudo e nem delegar tudo à sociedade. Governo é comando.

Paulo Nathanael Pereira de Souza – O conceito da educação na era do conhecimento: o caso brasileiro

Ex-secretário municipal de Educação e Cultura de São Paulo e presidente do Conselho de Administração do CIEE

O mundo vive a era do conhecimento, o que pressupõe que não pode haver ignorância. O que vemos hoje é o País fingindo que está progredindo, haja vista as dificuldades que tem para se inserir nessa era.
A educação brasileira começou pelos jesuítas, que serviam à Coroa e à Igreja. Não houve uma educação focada na formação de pessoas, de intelectuais. Até porque a população da época era dominada por uma multidão de escravos (vistos como animais, portanto, sem alma).
Graças a essa herança, a educação no Brasil nunca teve clima. As escolas reais não prosperavam, pois dependiam de impostos. Assim, não se formou por aqui um sistema educacional como o foi feito em outros países.
Quando Dom João chegou fugido de Napoleão, os filhos dos fidalgos (que antes estudavam na Europa) tinham de estudar por aqui. Então, começaram a surgir as escolas superiores – não para o povo, mas apenas para os nobres.
Isso explica porque nossa educação já nasceu com um viés elitista, não voltada para a formação da cidadania, para o trabalho ou para o espírito nacional. Somos herdeiros dessa pesada herança.
Cabe ao governo, agora, compensar toda essa ausência e instalar uma verdadeira política educacional no País.
O conhecimento avança a passos largos. Milhões de novas informações são produzidas ao longo de um mês, em alta velocidade. A cultura humana dobrou pela primeira vez nos tempos de Cristo. Dobrou novamente no Renascimento (séculos XV e XVI) e de novo quando ocorreu a Revolução Francesa (século XVIII).
Hoje, o conhecimento humano dobra a cada seis meses e temos de nos ajustar às novidades, condição sine qua non à sobrevivência e à competitividade.
Como não há cabeça capaz de armazenar e processar tamanho volume de informações, o computador é o grande ‘estocador’ de informações. Assim, é preciso educar as pessoas para saber o que é fundamental na área do conhecimento e a buscar por conta própria as informações que lhes são necessárias.
É por isso que discuto com os professores nas universidades: preparem os alunos para o autoditatismo, de forma a terem instrumental adequado para encontrar no armazenamento dos saberes o que precisam para sua vida profissional e para a competição global.
Enquanto a obsolescência dos saberes se der após 18 meses da obtenção do diploma da faculdade, o Brasil não estará preparado para o mundo. É imperativo haver pertinência entre o que a escola ensina e o que o mercado reclama.
Pesquisas sobre rendimento escolar mostram que a educação não cumpre o seu papel. A escola não está atualizada, não tem a desejável funcionalidade. Apenas 10% da população que estuda aproveita o que estuda. Sabe ler e entender, faz contas com mais de três algarismos.
Vivemos um país que vai ficar na mão de 90% de pessoas que não tiveram boa escolaridade. Isso representa uma tragédia na era do saber. Nosso ensino superior não leva o aluno às grandes descobertas e à solução de problemas em geral.
Um país não consegue se desenvolver sem educação competente. E, como já foi dito, hoje não existem mais nações subdesenvolvidas, mas populações incapazes.
Qual seria a finalidade maior da educação? Formar cidadãos para participar do processo político, para trabalhar e progredir. Ainda formamos empregados – quando o emprego está no fim -, ao invés de empreendedores.
Como reformar a educação? Tenho algumas idéias. Primeiramente, uma reforma não adianta (as que ocorreram até então buscaram apenas preservar o poder dos órgãos administrativos, dos dinossauros burocratas). Uma reforma que não chegue à sala de aula é nada (assim como os recursos – atualmente, de cada real para a educação, 60% ficam no meio do caminho).
Melhor, então, promover alterações pontuais e modificar procedimentos. O primeiro deles refere-se à formação do professor, que não são devidamente preparados pelas faculdades. Até pedagogos não sabem definir o que é educação. Também falta aos professores incluir a tecnologia no dia-a-dia. Não adianta colocar computadores em sala de aula se o mestre utilizar esse recurso apenas para pegar notícias. Informação é que tem na internet, mas isso não significa saber.
Também é preciso remunerar melhor o professorado e garantir meios de reciclagem e atualização. Para ensinar, é preciso estudar todos os dias e estar em permanente busca do conhecimento.
O Brasil gasta 4% do PIB com educação (volume similar ao dos EUA e da Alemanha, embora 4% de euros seja um valor muito mais significativo). Acontece que nesses países, a educação é levada ao pé da letra. São 12 anos de estudo, no mínimo, e docentes e dissentes contam com todos os recursos necessários à aprendizagem. Aqui, são oito anos e falta de tudo na sala de aula. Assim, 4% é nada para o oceano de carências. Talvez fossem suficientes para o ensino básico. Mas são necessários mais recursos para o superior.
Há, ainda, o problema da epistemologia dentro das escolas. O saber é holístico. Dividi-lo em matérias como história, geografia, etc. só vale para a prática do ensino.
Devemos reivindicar que o governo veja a educação como estratégica. Temos de atacar os males de raiz e lutar para que educação seja colocada como política social e de Estado.

Silvia Carneiro
Assessora de Assuntos Institucionais / Secovi-SP

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