Reunião de 6/6/2008
“Por que as reformas são tão importantes na competição global?”

Três palavras são absolutamente decisivas para o Brasil, as empresas e mesmo a vida de cada um: gestão, gestão e gestão.
A lição é de Jorge Gerdau Johannpeter, para quem é possível reduzir despesas e obter ganhos significativos de produtividade e competitividade com base nesse trinômio, o qual se apóia em outra palavrinha mágica: educação.
“Se o Brasil investir seriamente em educação e fizer uma gestão eficaz para cortar despesas, as chances de crescimento sustentado estarão definitivamente criadas”, define o líder da Ação Empresarial e do Grupo Gerdau (13º produtor mundial de aço bruto).
A abrangência dos temas justifica a extensão deste relatório, dividido por assunto, a fim de facilitar a leitura, e com alguns destaques.
João Crestana, presidente do Secovi-SP, destacou o bom desempenho da indústria siderúrgica brasileira tão bem representada pelo Grupo Gerdau, “que é motivo de orgulho nacional”. Comentou a preocupação do setor imobiliário com a volta da inflação (fatal para segmentos de longo prazo) e com o aumento preço do aço. “Elevações como estas começam a inviabilizar novos empreendimentos, pois os custos orçados não acompanham a escalada dos insumos”.
Crestana também destacou trabalho coordenado pelo diretor conselheiro do Sindicato, Paulo Germanos, intitulado “Instituições Positivas”. Com a seleção de temas de relevância para o País, esse trabalho está alicerçado em três fases: publicação de livros, realização de debates e edição de cartilha/gibi para, didaticamente, popularizar as idéias contempladas.
O primeiro resultado desse trabalho – o livro “Reflexões sobre Direito de Propriedade” (Denis Rosenfield) está em vias de concluir a terceira etapa (cartilha em finalização). Democracia/capitalismo e credibilidade são outros temas programados. “Matéria no jornal Valor (05/08) focaliza pesquisa sobre o assunto, revelando que apenas 3% dos brasileiros acreditam no outro. Na Escandinávia, o porcentual é de quase 70%. Trata-se de uma instituição positiva que precisamos resgatar.”
Jorge Gerdau
“O NAT é mais que oportuno. É extremamente importante contarmos com núcleos pensantes e trocar idéias, um processo que falta muito no País. Chamar pessoas, ministros, e outros mais para estabelecer o diálogo”.
Capital social
- Capital social é hoje um dos temas fundamentais. Pesquisas científicas mostram que ele estabelece as taxas de crescimento. Pode-se ter uma equação econômica perfeita, mas sem capital social o custo da transação se torna inviável.
- A dimensão do capital social é que define a potencialidade de as sociedades serem eficientes. Há 20 anos, quando fizemos pesquisa sobre clima organizacional na Gerdau, a primeira pergunta foi qual é meu discurso, como é minha ação e que índice de nota as pessoas conferem. Isto é básico para definir a confiança da relação na construção do capital social.
- O capital social no Brasil está tão baixo que há o constrangimento parecer ridículo ao falar no assunto. Mas um capital social bem construído, dá muito lucro e muito resultado.
Agentes sociais e milagreiros
- A imagem do empresariado não é das melhores porque nós mesmos não acreditamos em nosso empenho e dedicação.
- Somos mais agentes sociais do que o poder público. Ninguém faz nada maior e melhor do que nós. Temos de ter um orgulho enorme de ser empresário.
- Quando recebo convite para a política recuso, pois acho sou mais importante como empresário. Nada contra políticos, mas porque somos a força do pensamento e conseguimos executá-lo.
- O que nos faz falta é o crescimento da auto-estima. O empresário é um milagreiro. Caçamos nichos de mercado como perdigueiros. Quando conseguimos descobri-los, construímos uma empresa, nos endividamos, contratamos operários e os treinamos; atendemos à demanda do mercado e ainda pagamos impostos. Então, somos milagreiros.
Cenário mundial
- O momento é de mudanças e crises, cuja dimensão exata está difícil de medir. Sempre que uma crise atinge as áreas financeiras, começam a haver dimensões maiores.
- O mundo vive uma inflação global que não está espelhada. Os EUA se endividaram aos trilhões e a China sustenta movimento de crescimento econômico extremamente elevado. A relação financeira China/EUA não é clássica, ou ortodoxa. Isso tem feito com que a inflação americana não venha à tona, até porque os americanos excluem petróleo e outras coisas do cálculo da inflação (no meu entender, uma numerologia enganosa). Hoje, existe uma inflação embutida no cenário mundial assustadora ou catastrófica e que está começando a aparecer.
- O comércio internacional cresce. A demanda da China influencia a inflação mundial – o que nos beneficia pelo tipo de produtos que a Gerdau oferece. Por outro lado, causa preocupações maiores.
- Acho que não vai haver modificação. Estou apreensivo como cenário global. É um processo tremendamente angustiante.
Brasil
- Por mérito, o Brasil construiu esses anos todos uma sólida estrutura financeira – e sem artificialismos.O momento que vivemos foi maturado. O Brasil tem sido um campeão nessa fase de transição. Mas isso não é suficiente. Não basta andar bem, precisamos que o mundo também continue andando bem. Daí as preocupações.
- Em comparação com países da América Latina, Ásia e, principalmente, a China, o Brasil demora mais para crescer. O motivo é a taxa de poupança e investimento. Todos sabem que a prosperidade está diretamente ligada ao índice de poupança, em termos individuais, empresariais e governamentais. É o único número que dá consistência ao processo de desenvolvimento. Nisto, o desempenho do Brasil é insatisfatório.
- Com a diminuição da participação da dívida pública, fator decisivo na percepção internacional, estamos atraindo capitais e investimentos internacionais, o que é importante para a formação de poupança.
- Dizem que o Brasil não tem capacidade. Digo que não há limite de capacidade. Se o governo não tem recursos, pode fazer licitações e os recursos vêm. Há uma boa margem de trabalho. Antes, quando ia fazer um investimento, ficava em dúvida se deveria aplicar aqui ou no Exterior. Hoje, não tenho dúvida: aplico no Brasil.
Poupança e investimento
- O aumento de renda e a ampliação do mercado de consumo são fenômenos importantes. Mais da metade do Brasil já é classe média (ainda que média baixa). O fato é que estamos numa movimentação extraordinária, que se reflete no financiamento habitacional e outros aspectos.
- Atualmente, 60% do PIB está com o setor privado, cuja poupança é de aproximadamente 27%. O governo, com outros 40% PIB, tem uma poupança de 1% a 2%. Se o governo tivesse no mínimo 10% do PIB em poupança para poder investir, teríamos condições de crescer a taxas consistentes.
- Crescimento econômico passa pelo nível de investimento, que passa pela poupança. É o que define a geração de empregos. É preciso construir isso. Passamos 20 anos crescendo 2,5% ao ano. Melhorou só agora. Mas a poupança do governo ainda é pequena.
- A taxa de investimento define a taxa de crescimento, temos de trabalhar para que haja poupança e também geração de emprego. E trabalhar para ser competitivo, pois a globalização é uma realidade.
Mais mercado
- O que precisamos, como foi dito anos atrás por um ministro alemão, é mais mercado.
- Não sou especialista, mas se deixássemos correr os juros na taxa de mercado (sem definição pelo governo), certamente as taxas seriam melhores. O que temos é um artificialismo decorrente da má política fiscal do governo, que tem a política monetária como único instrumento para combater essa dificuldade.
- Tenho tentado convencer as autoridades: se fizéssemos um superávit primário maior poderíamos reduzir os juros e o crescimento do PIB sairia dos 5% para 7% ou 8% ao ano.
Câmbio
- Preocupa-me a taxa de câmbio, um problema que parece quase que insolúvel, razão pela qual a alternativa seria mexer na base monetária e tributária.
Custo do dinheiro e juros
- Tudo hoje no Brasil é globalizado. Menos o custo do dinheiro. Não sei se por pressão dos banqueiros. Porém, como comerciantes do dinheiro que são, eles lucram com juro alto ou baixo. Pessoalmente, acho que o spread está artificial.
- Falo para o Lula que se ele fizer um superávit maior, ninguém vai notar. Mas se diminuir a taxa de juros, todos vão perceber, pois sentem no bolso.
- Acho que o juro passa por processo de maior poupança do setor público, ou gastar menos para que o superávit primário cresça dois pontos porcentuais (chegue a 6%). Com isso, a redução poderá ser de um terço, no mínimo.
Gestão e austeridade
- É preciso ser austero na política de gasto. É por isso que estou trabalhando no MBC (Movimento Brasil Competitivo) e com resultados fantásticos em prefeituras governos estaduais, hospitais, etc. Só na gestão de despesas os ganhos são consideráveis. É possível melhorar muito. A prefeitura de São Paulo conseguiu economizar de cerca de R$ 3 bilhões. Fortunas se perdem com a falta de gestão. E isso é poupança que dá para jogar em investimento.
- Podemos utilizar a experiência mundial – resultante da aliança entre os setores acadêmico e empresarial – para conseguir desenvolver em termos de gestão (mapas estratégicos, sistemas de medições, etc.).
- O MBC realizou em Brasília uma reunião nove governadores. Jornalista presente comentou que aquela foi a primeira vez que viu um governante dizer que gastou menos (“Só vi político se promover dizendo que gasta mais”, comentou). É extremamente interessante essa percepção. Há um rompimento de mentalidade. A palavra gestão hoje está começando a correr. Meu sonho é atingir os 27 estados. No governo federal só tenho conseguido atingir o ministro da Responsabilidade Social, o que é uma pena, pois a União pode melhorar muito fazendo gestão de qualidade. Vai sobrar dinheiro.
- Tenho cálculo orçado de quantos milhões eu vou economizar este ano graças à gestão de qualidade. E todos os funcionários são premiados.
- ‘Não há limite de produtividade e eficiência quando se trabalha com uma boa gestão. E isso em todas as áreas. Para tanto, é preciso fazer estatística, pois quem não mede não gere. É preciso certo fanatismo ou mesmo tolerância zero nesse processo, que também passa por educação.
Educação
- A educação representa o caminho para que o Brasil continue se modernizando e seja internacionalmente competitivo. Nosso grande desafio é acabar com o baixo nível da educação.
- Se atualmente crescemos 5%, seria fácil chegar a 7% ou 8% se conseguíssemos mexer em dois ou três pontos básicos visando à competitividade global. O primeiro ponto é o investimento em educação (a chave). No ranking da qualidade da educação ocupamos do 6º lugar. Quando chegarmos ao 1º lugar, teremos seres inteligentes, competitivos e capazes. É gente que faz o business. Há um milagre nesse processo de investir e capacitar pessoas, com gerenciamento. Em vez do “Fome zero” (assistencialismo), deveríamos trabalhar pelo pleno emprego para dar dignidade às pessoas.
- O sucesso do Grupo Gerdau reside essencialmente em investimentos constantes em capacitação e formação global (apenas 0,3% dos funcionários não fizeram o curso básico completo). São 100 horas investidas anualmente nas pessoas para melhorar a capacitação, o que resulta em nível de produtividade internacional. Chega de complexo de 3º mundo!
- Cabe lembrar que educação também envolve a capacitação e a motivação de professores. Soluções existem
Carga tributária
- No começo do governo FHC, a carga tributária correspondia a 22,5% do PIB. Hoje, chega a 36,4%. E tudo isso foi feito sem perguntar o que o povo quer ou não quer. Vão-nos enrolando com tributos e, apesar de toda essa arrecadação, o índice global de poupança para investimento fica com menos de 2%.
- Esse processo é terrível, principalmente pela falta de transparência. Em recente debate, Paulo Skaf (Fiesp) apresentou uma conta de energia: 55% do total eram de impostos. Estamos tão distorcidos que não percebemos que, na realidade, são 110% de impostos, porque o produto custa 45%.
- A parte tributária é escandalosa. O Brasil construiu sua indústria siderúrgica com energia competitiva. Há cinco anos, era energia mais barata. Hoje, estou no bloco dos que pagam mais caro (mesmo que a energia seja gerada por termoelétrica), por conta do sistema tributário.
- Além desse verdadeiro assalto, há ainda a impossibilidade de compensar o ICMS, dentre outras dificuldades. Isso nos faz pensar como é que o Brasil consegue ser competitivo.
- Esse sistema precisa ser alterado. O imposto não pode continuar sendo mais que tudo. Nos EUA, que tem o IVA, a nota fiscal de compra mostra claramente o imposto, que é calculado de baixo para cima.
- Se ao vender um tecido eu omitir quais são porcentuais de lã e poliéster, vou preso. O fisco faz isso conosco o tempo todo.
Burocracia
- Sem mencionar o gargalo da infra-estrutura (todos sabem), temos o excesso da burocracia. É o caos. No Canadá, faço todo o gerenciamento fiscal com meio funcionário dia. Só tem o IVA. Tudo é automatizado e informatizado. No Brasil, tenho 140 pessoas. Os processos são intermináveis. Discute-se se a energia do escritório da comercial Gerdau é crédito ou não de PIS/Confins. Eu discuto tudo o que é potencialmente possível.
- Na área trabalhista, outro caos. Trabalho em 14 países. Em todos eles, tenho dois processos trabalhistas. Aqui, tenho dúzias (é uma indústria de processos). O mesmo no que se refere a processos fiscais (nenhum no exterior).
Previdência
- O que temos é vergonhoso. Num país civilizado, previdência tem de ser auto-sustentável. É inaceitável que um brigadeiro se aposente aos 47 anos e, hoje com 92, continue R$ 15 mil por mês bancado por todos nós. E isso ocorre também no Judiciário e com os cargos de confiança no Congresso (trabalha-se meio ano e recebe-se aposentadoria com adicional de 20%). Trata-se de dinheiro que deveria ser aplicado em investimentos.
- Não me incomodo de pagar impostos para que não haja fome e para que a educação seja boa. É minha responsabilidade social. Mas me incomodo de pagar essas aposentadorias. A sociedade deveria pagar o básico (dois a três salários). Daí para cima, cada um deveria assumir o seu. O Estado assumiria apenas o mínimo (dois ou três salários). Do jeito que está, não há poupança pública para aposentadoria que chegue.
- O processo deveria ser auto-sustentável. Nem deveria estar no Orçamento. Países asiáticos não têm a previdência do Estado. Assim, a população poupa. É outra atitude.
- O relatório final da comissão tripartite de trabalho referente à Previdência apresenta uma série de medidas. Nós detectamos uma economia de R$ 40 bilhões só com gestão (montante que é do tamanho do déficit do setor).
- Não é difícil corrigir. Basta acabar com o privilégio da nomenclatura em cima da miséria, cuidar da melhoria eficiência de gestão e não dar aumentos ao funcionalismo (a prioridade do País não é essa). Posso até aceitar que um funcionário público não ganhe menos do que o mercado paga, mas ele não corre os riscos desse mesmo mercado.
- O Brasil só tem um problema: acabar com os excluídos. E isso só é possível com poupança.
Aço
- É nítida a evolução mundial do aço: saltamos de 700 a 800 milhões de toneladas/ano para 1,3 milhão – influência da China. A mineração não esperava esse crescimento.
- 70% do minério no mundo está nas mãos de três ou quatro empresas. O processo de produção é lento (uma nova unidade leva quase quatro anos para funcionar plenamente).
- O setor siderúrgico ainda está em fase de consolidação. Hoje, temos sete empresas (antes 35). O Grupo Gerdau é o 13º produtor no mundo. Fornecemos tudo para indústria automobilística. Já estamos na Índia (com parcerias) e de olho na China. Este ano vamos chegar a 37,5 milhões de toneladas e o consumo interno a 24 milhões.
- Nossas 48 unidades siderúrgicas estão em forte processo consolidação forte. Crescemos em média 20% ao ano, um número expressivo. Ingressamos no chamado segundo bloco dos maiores produtores.
Pontos a memorar e gargalos
- Controle inflacionário, superávit primário, reservas internacionais, balança comercial, perfil da dívida pública, Lei das Falências e algumas políticas públicas são aspectos positivos.
- Falta, porém, um Projeto Brasil de longo prazo. É preciso aumentar o investimento público, a infra-estrutura e a logística; é preciso reduzir o gasto público, a carga tributária e os entraves burocráticos; é preciso fazer as reformas política, previdenciária e do Judiciário. Isso é imperioso para a competição global.
- Vivemos um momento extraordinário, mas é preciso superar debilidades que impedem a consolidação de um ciclo virtuoso, alicerçado em crescimento econômico, geração de empregos, poupança e investimento.
Debates
MUDAR A MENTALIDADE DO GOVERNO – Paulo Germanos (diretor conselheiro do Secovi-SP) fez a seguinte analogia: “Se o Brasil fosse uma pessoa, teria uma perna bem desenvolvida, como a de um atleta (que é o setor empresarial) e outra perna de um sujeito obeso que não sai da cadeira (a perna do governo). Enquanto uma avança, a outra se arrasta. Como contaminar o governo com o estilo de trabalho e gestão da vida empresarial? Como mudar a mentalidade pessoas governo?”
É preciso reconhecer que os políticos se movem pelo interesse político. O governo Lula faz um trabalho espetacular na parte financeira. Mas correções básicas, como a previdência, não acontecem. Não se mexe com o que não dá voto. Isso é um problema sério. A prioridade dos partidos não é se equacionar numa melhoria fantástica do sistema econômico. Daria para fazer mais com menos carga tributária e melhor gestão
Na Ação empresarial, sabemos que o problema não é técnico. Todos sabem o certo errado. Porém, o processo passa pela administração política. Assim, o maior desafio dos empresários é saber como mexer no processo político. Do contrário, nós, os trouxas, que pagamos impostos, vamos continuar pagando cada vez mais, até que se mude a administração política. É um tema complexo, para o qual não encontrar resposta. Mas se não conseguirmos entre nós aumentar a capacidade política, não chegaremos lá.
O PREÇO DO AÇO – Danilo Talanskas, presidente da Elevadores Otis Brasil, afirmou que a pressão do custo do aço está insuportável. “Faço comparação de custos de todas as fábricas da Otis no mundo e, no Brasil, o grande vilão é o aço. Quais as perspectivas?”
O mercado de aço está totalmente globalizado e os preços internacionalizados. Tivemos brutal elevação do custo do minério. A China, que era maior exportador, suspendeu o fornecimento por conflitos ambientais. Hoje, com exceção dos EUA, o aço está mais caro no mundo e o Brasil acompanha esse cenário. A crise internacional tende a acalmar, mas a demanda da Ásia continuará a pressionar. Não tenho certeza de quando haverá redução. O ambiente é de grande pressão. Participo Conselho Petrobras – o custo para extrair um barril subiu 245% em relação há cinco anos. Em termos gerais, o preço do aço no País está dentro dos patamares internacionais. Mas há os fatores de logística e de impostos, que fazem com que aqui o aço custe 45% a mais.
REFORMA TRIBUTÁRIA – Carlos Camargo (vice-presidente do Secovi-SP) indagou se é politicamente possível ser realizada uma reforma tributária aprovada por todas as cadeias produtivas.
O que atrapalha é o corporativismo e as travas dos governos estaduais. Hoje, o maior problema é resolver a questão do ICMS na guerra fiscal e no sistema de destino e origem. Os Estados não querem abrir mão. Pis/Cofins é fácil de arrumar. Mas o entrave da guerra fiscal precisa ser politicamente resolvido – e só o será com a criação de um superfundo (com recursos que, teoricamente, não existem) e uma escala de compensações. Na verdade, a guerra fiscal representa um poder fantástico para os políticos e é um caos para o País. Quem ganha é a grande empresa que tem competência negocial. O esquema é danoso. A única vantagem que trouxe foi um processo de descentralização industrial que não pode ser desprezado. Não vejo essa reforma andando com a atual estrutura corporativa dos Estados.
PARA INVERTER O JOGO – José Maria Chapina Alcazar (presidente do Sescon-SP), considerou que o empresariado tem de aumentar sua credibilidade e influenciar decisões. “Que ferramenta é preciso construir dentro do empresariado para inverter essa posição? Se dependermos apenas do governo, não serão feitas as reformas política, tributária ou previdenciária. Estamos combatendo agora proposta que tramita no Congresso, prevendo a volta da distribuição dos lucros. Se não ficarmos antenados, a lei passará e teremos mais um imposto. O empreendedorismo tem força motora para inverter esse quadro?”
Precisamos criar um associativismo empresarial com uma outra forma. Temos entidades setoriais (como o Secovi-SP), ligadas a cadeias. Nossas associações não estão conjugadas. Nossas estruturas são vinculadas à estrutura sindical, que não tem capacidade de uma representatividade legítima. Assim, a soma das associações setoriais, organizadas por uma entidade global, eventualmente terá condições de realmente formar uma macrovisão estratégica e empresarial.
A CNI de Armando Monteiro, por sugestão minha, criou um fórum que está associando essas entidades, nos moldes das estruturas mundiais. Esta é a única forma de essa massa exercer efetiva pressão política no Congresso.
Temos de trabalhar em conjunto e definir soluções de como atuar politicamente. Nós espalhamos dinheiro em campanha eleitoral e não buscamos um retorno. Individualmente, as pessoas conseguem resolver seus problemas, mas a grande saída é a solução global, que dá mais retorno do que a individual. É preciso criar essa mentalidade, e a estrutura associativa tem de se fortalecer para que realmente possamos atacar o problema da condução política.
Silvia Carneiro
Assessora de Assuntos Institucionais/Secovi-SP









