Reunião de 2/10/2008

“As Perspectivas do Desenvolvimento Brasileiro”

“Não é hora de frear o crescimento da economia”, sentenciou o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Por ocasião de reunião do NAT realizada dia 02/10. Coutinho afirmou que a precariedade que caracteriza o funcionamento do sistema de crédito mundial é a responsável pela verdadeira paralisação dos bancos, que negociavam papéis ‘tóxicos’ e que agora travaram para recompor liquidez.
“A falta de confiança começará a ser paulatinamente superada. Haverá um processo de limpeza, cuja contabilização poderá superar os US$ 700 bilhões que os EUA aprovaram para socorrer as instituições financeiras em dificuldades. Teremos um longo processo de digestão. Os capitais vão fluir em volume menor, de forma mais cautelosa e seletiva. E, nesse ponto, o Brasil mantém sua atratividade, pois já consolidou as bases do crescimento sustentável. Temos um Banco Central firme e sério, política fiscal eficiente e um mercado doméstico com potencial expressivo”, garantiu.
Para Coutinho, a única condição fundamental é manter a geração de empregos e o aumento da massa real de salários. “O sistema de crédito brasileiro é saudável e o ciclo de investimentos conta com elementos fortes que conferem capacidade de crescimento. A crise é séria, mas podemos manter o ritmo de incremento da economia, razão pela qual não é preciso pisar no freio. O que temos é de mitigar os efeitos da contenção de crédito na economia e continuar crescendo, ainda que não a 5% ou 6% do PIB ao ano. Para isso, é importante é manter a prioridade na indústria imobiliária e da construção.”

João Crestana, presidente do Secovi-SP, enfatizou a oportunidade do encontro com Luciano Coutinho, para analisar o cenário mundial e nacional “Após 25 anos de estagnação, o ritmo do mercado imobiliário mostra que há condições de mantermos a retomada e, principalmente, que é preciso continuar preservando os recursos do FGTS para a habitação de interesse social, não cabendo desviá-los para outras finalidades”. Durante seu pronunciamento, Coutinho afiançou que o BNDES concorda com a prioridade à habitação e que o Fundo permaneça focado no combate ao déficit de moradias.

Luciano Coutinho

Sólidos fundamentos macroeconômicos

  • O Brasil consolidou as bases do crescimento. Tivemos muitos avanços e a obtenção do ‘investiment grade’ antes da crise é positivo. Temos um Banco Central firme e sério, política fiscal eficiente e mercado doméstico com potencial expressivo.
  • Nosso sistema de crédito é saudável, assim como seus tomadores, que ainda estão pouco alavancados. Por isso, apesar das dificuldades, o crédito deverá continuar crescendo.
  • O setor privado tem recursos para investir. Isto somado ao aumento do emprego e da massa real de salários (o que representa redução das desigualdades sociais) formam um ambiente favorável. Não há razão para imaginar que a economia brasileira vai precisar pisar no freio e provocar recessão.

Consumo

  • O consumo das famílias se expande firmemente. No primeiro semestre deste ano, cresceu 6,6%. Um índice alto demais. O BC avisava que era preciso moderar o aumento do consumo para torná-lo mais sustentável e evitar dificuldades futuras. Isso, porém, sem desestimular os investimentos (fazendo uma calibragem fina).

Emprego

  • O desemprego vem registrando queda permanente. Em agosto último chegamos a menor taxa dos últimos anos para o mesmo mês. O emprego formal apresenta índices formidáveis. Isso aumenta a confiança do consumidor no Brasil, que ainda está intacta.
  • O aumento firme da massa de salários e a melhor distribuição de renda promovem o esvaziamento das classes E e D, que migram para a classe C. É a mobilidade social ascendente que volta ao País depois de muito tempo.

Crédito

  • A expansão do crédito, iniciada há três anos, se manteve firme até agosto de 2008, embora sua participação no PIB ainda seja baixa, haja vista o nível de renda. A média aceitável é de 65% a 70% do PIB.
  • Até que ponto a crise internacional (que é de crédito) afetará o sistema de crédito nacional? Não há razão para que aconteça aqui o que se passa lá fora. A rentabilidade do setor privado é recorde. O sistema empresarial brasileiro está bem capitalizado, de forma que o terror que se espalha não tem fundamento.
  • O nível de endividamento das empresas é baixo em relação a qualquer outra economia do mundo. Nosso sistema bancário é saudável e a inadimplência está sob controle. O potencial crescimento do crédito para o setor privado e as famílias é grande.

Perigo

  • O maior perigo é a gestão macroeconômica, de forma insensata, deixar a economia escorregar para a inflação ou provocar um PIB negativo. Isso vai provocar desemprego, incapacidade de tomar crédito, etc. A tarefa, portanto, é mitigar os efeitos da contenção de crédito na economia.
  • O PIB brasileiro está crescendo 6% ao ano. É claro que, diante do cenário atual, não é possível manter essa taxa, mas dá para crescer menos. O que não pode haver é uma desaceleração que desmonte o ciclo virtuoso que está em curso.

Dosagem

  • Defendo um crescimento econômico dentro de condições realistas, sem transmitir para dentro efeitos inescapáveis, como menor preço de commodities, menor exportação, redução do investimento estrangeiro direto, etc.
  • Não há porque referendar um desenvolvimento abaixo do justificado. É desnecessário prejudicar o fluxo de exportação temendo os efeitos sobre a taxa de câmbio. O governo deve fazer o que está ao seu alcance, no ‘timing’ adequado.
  • Também não há porque nosso sistema bancário travar por um logo período. Se isso ocorrer, o BC tem como afrouxar e fazer funcionar.

Confiança

  • É imperativo que a confiança na economia e no emprego persista. Isso é fundamental para o sistema de crédito em geral e para a expansão do crédito imobiliário.
  • Temos um ciclo de investimentos em curso. De 2006 para cá, o investimento privado (com 15,5%) cresceu duas vezes mais que o incremento do PIB (6%).
  • A economia está formando capacidade produtiva e criando oferta futura, com base de crescimento de 5% ao ano. Aumentar a taxa de investimento é o objetivo macroeconômico mais importante. Isso é sustentabilidade.

Sustentabilidade

  • É o item a ser preservado no crescimento, ainda que com alguma moderação no consumo. Temos de garantir investimentos, dentre os quais se destacam os direcionados à indústria da construção.
  • Com a crise mundial, o desafio agora é manter a trajetória de incremento num cenário difícil.

Condições

  • O Brasil tem a inflação sob controle – é o único país ainda dentro da meta, considerando-se as nações que adotam o sistema de metas inflacionárias.
  • Nossa dívida líquida está em queda. Hoje, o governo é credor e o ‘Risco Brasil’, após o ‘investment grade’, está abaixo dos riscos médios apresentados pelas nações emergentes (oferecemos condições de previsibilidade, o que é fundamental).
  • Com risco menor, o custo de capital é mais baixo. Apesar da desaceleração, as commodities continuam elevadas por dois aspectos: os estoques de alimentos e metais são os mais baixos dos últimos anos e há o petróleo.

Previsões

  • Commodities – é difícil diagnosticar o que vai acontecer, mas a evolução das curvas é importante. O que vem depois depende crucialmente do desempenho da China, que já estava desacelerando antes da crise do subprime. Tanto que o governo local já prepara políticas anticíclicas. Se o PIB chinês cair abaixo de 7%, haverá grande instabilidade. Se ficar entre 12% e 9% e algumas economias conseguirem manter certo grau de crescimento, poderá haver algum recuo, mas sabendo-se que os preços, no primeiro semestre, estavam inflacionados. De toda forma, isso não significa que haverá uma debacle no setor.
  • Investimento externo – pode cair, mas o Brasil vai se transformar, com outros países emergentes, na melhor alternativa para os investidores. Conforme a Sobbet, vários dados mostram o Brasil como boa opção.
  • Futuros investimentos – estudos do BNDES sobre investimentos no período 2008/2011 mostram expectativa positiva. São planos de investimentos robustos (perspectiva de aumento de 11% ao ano no período analisado). Pode cair um pouco, em razão do desempenho do setor de exportações. Mas será lamentável se não houver oferta de crédito para os investidores que acreditam no País. Por essa razão, talvez caiba ao BNDES um papel mais ostensivo.
  • Atuação do BNDES

    • Dentro do BNDES as aprovações estão em bom ritmo (superaram os desembolsos em R$ 30 bilhões). E temos recursos para fazer ainda mais (recentemente, o banco recebeu capitalização do Tesouro de mais R$ 15 bilhões, bem como um pedaço do superávit financeiro do FGTS – apartado para financiar infra-estrutura em geral, como construção -, recursos estes que não esvaziam o funding da habitação). São recursos disponíveis para empresas que acreditam no País.
    • A construção é importante como geradora de empregos, beneficiando diretamente a sociedade. O governo precisa olhar a habitação com afinco e interesse.
    • Infra-estrutura e construção representam um conjunto fantástico de oportunidades para investimentos. Dia 1º/10, em plena crise, fizemos um bem-sucedido leilão de energia futura. Quando o governo federal e mesmo o de São Paulo colocarem mais concessões rodoviárias e outros leilões terão igual sucesso. Poucos lugares no mundo têm projetos dessa natureza, razão pela qual o investimento externo no País será mantido, mais uma prova de que não há razão para, desnecessariamente, importar uma recessão.
    • O Brasil tem condições de crescer, para o bem da sociedade que começou a recuperar a credibilidade e a esperança. Não há porque desmanchar isso. Os ajustes devem ser feitos com sabedoria. Essa é a percepção e o entendimento que temos para manter crescimento nacional.

    Debates

    TJLP – Orlando de Almeida Filho, secretário da Habitação do Município de São Paulo, após agradecer o apoio do BNDES a iniciativas como o ‘Expresso Tiradentes’, questionou como ficará a TJLP.
    O BNDES não faz mais que a obrigação ao apoiar bons projetos. Quanto à TJLP, será mantida a 6,25%. Apesar das pressões, acredito que a inflação vai se enquadrar. O que importa é a queda da expectativa. Em razão do câmbio, é difícil calcular se a inflação será de 4,5% ou 4,7%. Mas a TJLP precisa ficar onde está para estimular o investimento. Os empresários devem saber que não é hora de pisar no freio.

    BANCO DE PROJETOS – Arlindo Moura, presidente Apeop, perguntou sobre o ‘banco de projetos’, haja vista que a ausência de projetos representa gargalo para o andamento PAC.
    O fundo de projetos está operacional com três iniciativas Exemplo: o projeto de trem de alta velocidade (com BID e Banco Mundial). Outra iniciativa em curso (e que se inclui nos objetivos do BNDES) é a estruturação de projetos (aeroportos, ferrovias e rodovias). A terceira iniciativa (envolvendo um pool de bancos – Bradesco entre eles) refere-se a uma empresa estruturadora de projetos, com vários deles em andamento. Há pelos menos 50 novos projetos em análise.

    BANCO CENTRAL – Octavio de Barros, Diretor de Pesquisas e Estudos Macroeconômicos do Banco Bradesco, considerou ser realmente desnecessário importar para o setor de investimentos um problema bancário. Lembrou que existem R$ 247 bilhões em compulsórios recolhidos ao Banco Central (parados lá) e que o órgão não vai errar se der uma pausa no ritmo (há previsão de R$ 100 bilhões de empréstimos este ano).
    Temos R$ 150 bilhões enquadrados. O ‘pipeline’ cresceu 40% nos últimos seis meses. Pode ser que ocorra alguma reversão de comportamento. Há um deslocamento da demanda do mercado dos bancos para o BNDES, o que deverá provocar uma sobrecarga pontual. Vamos chegar a R$ 100 bilhões ainda no governo Lula. Mas para isso é preciso funding, razão pela qual estou indo ao Japão, que tem recursos mais baratos.

    FGTS E FAT – Celso Petrucci, economista-chefe do Secovi-SP e membro do Conselho Curador do FGTS, informou que o Fundo tem vários projetos em carteira. Os referentes ao saneamento básico terão recursos do BNDES, mas ainda nada foi liberado. A justificativa é a necessidade de capitalização do organismo. Assim, perguntou até onde vai essa necessidade de capitalização do Banco, se há informações sobre o desempenho do FAT e se Coutinho está acompanhando o Plano Nacional de Habitação.
    Acompanho de longe o Plano Nacional de Habitação, mas vejo que as coisas estão fluindo. As necessidades globais de recursos do BNDES para 2009 são de R$ 40 bilhões adicionais. Trabalhamos um plano de funding com o Ministério da Fazenda e vamos buscar maior captação externa. Consideramos que esse é um processo transitório. Vamos ter de investir muito em mobilidade urbana (metrôs, trens, corredores). Temos também de escolher as 12 cidades que serão sede da Copa de 2014. Só com boa acessibilidade no tecido urbano é que poderemos viabilizar o investimento privado. Adicione-se que o entorno dos estádios representarão campo de oportunidades para o setor da construção.

    CRISE E OPORTUNIDADE – Sergio Vieira, diretor-conselheiro do Secovi-SP, ao lembrar o ideograma chinês (crise é sinônimo de oportunidade), indagou se este não é o momento ideal para o governo realizar a reforma previdenciária e outras.
    Concordo. A reforma previdenciária é inadiável, pois a tendência é a idade média do brasileiro aumentar. Também é um momento adequado para olhar o gasto corrente, priorizar os investimentos no Orçamento Geral da União. Há uma agenda difícil, 2009 ainda não é um ano eleitoral, mas é preciso haver um entendimento claro dos quatro grandes partidos que o País possui. É hora de uma composição entre governo e oposição.

    BENÇÃO E PRAGA – Emílio Carazzai, membro do Conselho de Administração do Banco Pine e ex-presidente da CEF, considerou que o FGTS (arcaico e carente de revisão) é uma benção e uma praga, pois o Congresso Nacional diz que não é preciso colocar a habitação de interesse social no Orçamento pois o segmento tem o FGTS. Foi em 2001 que pela primeira vez na história do País conseguirmos inscrever no Orçamento um programa de subsídios às famílias de baixíssima renda. Mas também é preciso prever infra-estrutura para a habitação. Não dá para construir casinhas no ar.
    Reitero que os recursos que vieram para o BNDES foram do FI/FGTS, um fundo com reservas inoperantes. Não reivindicamos. O Tesouro destinou. É difícil financiar essa infra-estrutura para habitação com prazos de 15 ou 20 anos a taxas como a TJLP. É preciso ver como será financiar isso contando pouco com recursos externos. O sistema de poupança instituído no País precisa ser repensado (FGTS, FAT, etc.). Habitação, saneamento, um tecido urbano mais organizado, tudo isso exige um sistema de financiamento mais adequado.

    Silvia Carneiro
    Assessora de Assuntos Institucionais/Secovi-SP

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