Reunião de 29/1/2013

O “Novo Normal” da Economia Brasileira e seus Desafios de Médio e Longo Prazos

Octavio de Barros é o economista-chefe do maior departamento econômico do setor privado do País, o Depec, do Banco Bradesco. Ele foi o convidado a palestrar no primeiro encontro do NAT deste ano, na sede do Secovi-SP.

Na abertura do evento, Claudio Bernardes, presidente do Secovi-SP, chamou a atenção para a sensação de que a economia brasileira, em virtude do fraco desempenho do PIB do ano passado, pode estar começando a andar de lado. “Aqueles mais ansiosos já ensaiaram passos na direção do pessimismo”, disse o dirigente do Sindicato, adicionando ao coquetel de infortúnios os passeios da inflação fora da meta. “Ainda que considerada a crise mundial, houve quem afirmasse que a economia do País estava fora de controle, que as conquistas do Plano Real estavam em risco, enfim, coisas alinhadas ao discurso dos catastrofistas de plantão”, disse Bernardes.

No que diz respeito ao mercado imobiliário, o presidente do Secovi-SP lembrou que, no ano passado, uma série de ajustes foi promovida para atendimento da demanda e compatibilização com a capacidade de produção. “Houve redução no volume de lançamentos, mas a comercialização se manteve aquecida. Portanto, nada que possa preocupar com relação ao desenvolvimento do mercado”, completou. Além disso, Bernardes também descartou preocupações relacionadas a uma futura queda nos preços, tendo em vista que o atual patamar está compatível com a matriz de custos e com a capacidade de pagamento dos potenciais adquirentes. Em 2013, o setor imobiliário deve crescer de 3 a 5%.
Romeu Chap Chap, coordenador do NAT, destacou que inaugurar a série de encontros com a participação do economista foi providencial. “Nada melhor do que começar 2013 com a possibilidade de uma antevisão sobre o que este ano nos reserva. Nada a ver com exercícios de futurologia, mas, sim, de ter acesso a uma base de dados que, devidamente analisada e interpretada, gera conhecimentos de inestimável valor. E é exatamente o que hoje teremos aqui com a participação de Octavio de Barros, que também é membro do NAT”, disse.

O “novo normal”

Octavio de Barros iniciou sua palestra dando um panorama da economia global. Recorreu, para isso, ao binômio “Belle Époque” e “Novo Normal” (conceito cunhado pelo economista Mohamed A. El-Erian), para mostrar duas fases distintas do ambiente econômico mundial. Enquanto no primeiro período (2004 a 2011) havia forte expansão do crédito, menor intervenção estatal na economia, despreocupação com o endividamento soberano, China com exponencial crescimento, altas taxas de retorno e o consumo como pilar do crescimento, no segundo, seus componentes são relativamente antagônicos: crédito cresce mais moderadamente, estado pesa mais sua mão sobre a economia, endividamento soberano sofre redução, PIB chinês se retrai, menores taxas de retorno e crescimento baseado na produtividade e no investimento. Na Belle Époque a recuperação global se dava em “V”; no Novo Normal, dá-se num “V” também, mas esse curvado à direita. “É o que chamamos de recuperação em Nike”, ilustrou, em alusão ao símbolo da famosa fabricante de tênis.

Na avaliação de Barros, os mercados nacional e internacional estão com saudades da Belle Époque, conquanto seja inescapável refletir sobre o Novo Normal e como se adequar a ele.

Cenário global

Em 2013 o mundo deve crescer mais que em 2012. Além disso, a conjuntura econômica mundial, na visão do Depec, do Bradesco, aponta que neste ano os riscos serão modestos – visão compartilhada pelos bancos JP Morgan, Deutsche Bank e Goldman Sachs. O crescimento do PIB global em 2012 deve ser de 3,3%, de acordo com o Fundo Monetário Internacional. Para este ano, a projeção é de 3,6%. No que se refere à evolução da taxa de juros, os países emergentes fecharam com uma média de 5,81%; os desenvolvidos, 0,51%.

As melhoras da economia europeia seguirão graduais. Mário Draghi, que na avaliação de Octavio de Barros foi a personagem mais importante na gestão da crise do continente, conseguiu vencer a batalha contra a austeridade fiscal imposta por Angela Merkel no financiamento a países em dificuldades. “A Europa deve muito a Mário Draghi, que conseguiu separar o problema bancário do risco soberano”, disse o economista. Enquanto em 2012 o PIB da zona do euro retraiu 0,5%, neste ano deve haver um crescimento de 0,2%. “Este ano ainda será de ajustes, mas para 2014 já há um consenso sobre recuperação”, considerou Barros.

Nos Estados Unidos, cuja economia reage melhor a incentivos, assiste-se a um renascimento industrial, desalavancagem das famílias, geração de empregos e preços de imóveis em recuperação. “Estão se movendo aos poucos para fora da crise”, avaliou o economista do Bradesco. Segundo a Bloomberg, o PIB americano deve fechar 2012 com crescimento de 2%; já neste ano, 2,3% – desempenhos bem melhores que 2009, quando despencou 3,5%. “Não estou falando de papel de locomotiva, tradicionalmente desempenhado pelos EUA, mas sim de uma senha para melhorar o humor dos mercados globais. Um contágio positivo”, disse Barros, ao se referir aos bons números americanos e sua influência no ambiente econômico de todo o mundo. Soma-se a isso o fato de os americanos estarem passando por uma fase de renascimento energético: podem ultrapassar a Arábia Saudita como maior produtor mundial de petróleo com novas tecnologias de extração em rochas inacessíveis, além do fato de a revolução do gás de xisto estar em pleno andamento, o que pode catapultar o país ao posto de maior produtor de gás do mundo, superando a Rússia.

Sobre o estágio atual das crises americana e europeia, Octavio de Barros afirmou que os americanos estão no seu 4/4, quase no fim; a Europa teria acabado de entrar em seu 3/4.

A partir de agora, para o economista, devemos reconhecer o esgotamento gradual do papel de locomotiva da China. O país não deve voltar a crescer dois dígitos, e sim ficar na casa dos 7% tanto em 2012 como neste ano.

Brasil

Octavio de Barros posicionou-se contra a corrente do “catastrofismo” econômico presente em grande parte do noticiário e nos comentários sobre o futuro da economia brasileira. “O crescimento mais baixo do PIB não terá implicações relevantes sobre a leitura dos agentes econômicos em relação ao futuro do Brasil”, disse Barros. Lembrando que ainda há deficiências a serem enfrentadas, afirmou que o País não tem nenhum “defeito congênito” que o condene a não enfrentar seus desafios.

O crescimento médio de 3,9% nos últimos 10 anos e as altas registradas em diversos setores da economia no mesmo período – material de construção, consumo das famílias, crédito, comércio, varejo, venda de automóveis e produção industrial – foram fatores mencionados pelo economista, que recorreu a eles para amparar seu diagnóstico. “O PIB deste ano deve ter um incremento de 3,5% em comparação às estimativas extraoficiais 1% no ano passado”, estimou.

Traçando um paralelo com o crescimento acumulado do PIB de outros países na última década, Barros não vê razões para apostar num fracasso nos próximos anos. “O Brasil cresceu 43,1%; Austrália, 33,7%; México, 27,6%; Estados Unidos, 17,7%; zona do euro toda, 10,1%, e, Japão, 8,6%”, sequenciou. Nossos vizinhos da América Latina, no entanto, cresceram bem mais que o próprio Brasil no mesmo período: Chile, 57,4%; Colômbia, 65%; e Peru, 88,1%, segundo dados do Fundo Monetário Internacional.

O economista explica por que razão o desempenho da economia brasileira no ano passado foi pífio. “Tudo o que poderia dar errado em 2012 deu”, disse. Eis a conjuntura: seca no Sul e no Nordeste; crise no DNIT, que travou os investimentos públicos; crise na construção residencial devido ao excesso de oferta; endividamento do setor alcooleiro, reduzindo a produção de cana; queda de produção da Petrobras; problemas com bancos pequenos e médios e a crise na Argentina, que detonou as exportações de manufaturados brasileiros. “Esses fatos podem ter roubado de 0,8 e 1% de crescimento do PIB”, avaliou Barros.
Novas fontes de crescimento – Para Octavio de Barros, o modelo de crescimento do Brasil não está esgotado. Entretanto, encontrar novas formas de expansão econômica torna-se imperativo, uma vez que os elementos que alçaram o PIB do Brasil a patamares elevados não se mostram mais eficazes como antes. “A expansão do crédito foi resultado de um dos maiores processos de bancarização da história: foram 60 milhões de brasileiros que entraram no sistema financeiro”, disse. Essa onda não se repetirá, pois não há mais uma massa de gente que possa vir a ter conta em banco. Cinquenta milhões de pessoas não devem ascender de classe social novamente tão cedo. Por fim, o câmbio valorizado, que aumentou o consumo e a renda, e o gasto público sustentado pela alta carga tributária foram os outros pilares que, para o economista, fomentaram o PIB nos últimos anos.

Os novos caminhos para o crescimento, na avaliação do economista, passam obrigatoriamente pela busca de maior competitividade, menores gastos de custeio, mais foco em investimentos públicos e privados, menos juros e melhores condições de financiamento. “No Brasil, temos uma jazida de produtividade a ser explorada”, afirmou, aludindo às diversas áreas que, se receberem investimento adequado, contribuirão exponencialmente para o incremento do PIB – educação, saúde, logística, automação, inovação e serviços.

Outro fator elencado na palestra foi a urgente necessidade de melhorar o ambiente de equity no País para atrair investimentos estrangeiros. As constantes intromissões do governo na Petrobras, impedindo-a de reajustar os combustíveis, e a recente medida da presidente Dilma Rousseff de impingir às empresas de energia elétrica prejuízos bilionários em razão da forçada redução da conta de luz amedrontam investidores de fora.

Neste ano, o Brasil não tem o direito de errar. “O governo tinha 10 botões para apertar e apertou todos. As chances de que não haja recuperação econômica são praticamente remotas”, analisou Barros. Para ele, a visão pessimista sobre o Brasil nos próximos anos de muitos analistas é improcedente. O economista cita, inclusive, o PIB sugerido pelo consumo de energia elétrica (3,7%, no acumulado em quatro trimestres até setembro do ano passado) e a expectativa do recorde histórico a ser batido neste ano pela renda agrícola (R$ 123 bilhões em grãos) e agropecuária (R$ 175 bilhões das lavouras e R$ 123 bilhões da pecuária), segundo a consultoria MB Agro.

Construção civil – Depois de crescer 3,6% em 2011, o PIB da construção civil projetado pelo Bradesco para 2012 e 2013 é de 2,3% e 4,2%, respectivamente. A confiança dos empresários do setor é de 71,2% (dados de janeiro deste ano). O banco também consolida a confiança dos subsetores da construção: unidades residenciais, 74,8%, em ascensão desde julho de 2012, quando registrou o pior índice (53,6%); unidades comerciais, 47%, em queda desde agosto do ano passado, quando atingiu 80,9%; e infraestrutura, 74,9%, também em tendência de alta.

Na avaliação de Barros, Caixa Econômica e Banco do Brasil não devem ampliar o crédito imobiliário somente por causa da Copa de 2014. Também mencionou uma tendência de mudança no perfil dos financiamentos, com prazos menores de pagamento e exigência de entrada de 20 a 30%. “A história de que o brasileiro está endividado é uma falácia”, assegurou Barros, para quem o aumento da inadimplência verificado no ano passado foi consequência da má concessão de crédito por parte dos bancos em meio à febre da bancarização. “O brasileiro está aprendendo a trabalhar com o crédito. Trata-se apenas de uma mudança de comportamento”, pontuou.

Leandro Vieira
Assessoria de Comunicação/Secovi-SP

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